Filho,
Esse é um post que, realmente, eu não gostaria de
escrever...
Mas como a intenção deste “diário” é registrar seus
dias e suas experiências, e porque vivemos num mundo muito ruim sob alguns
aspectos, não me resta alternativa senão fazer também este registro...
Ontem, meu amorzinho, você teve, infelizmente, seu
primeiro contato com a violência urbana que assola o nosso país e, em especial,
a nossa cidade. Ainda que, graças a Deus, você não tenha percebido nada e
estivesse já sorrindo segundos após o ocorrido!
Ontem mamãe chegou do trabalho e foi te buscar na
casa da vovó Shirley, como acontece todos os dias. Contudo, no meio do caminho,
paramos num semáforo e fomos abordados por dois bandidos, que mandaram a mamãe
descer e entregar o carro.
Filho, nessa hora NADA NO MUNDO tinha mais
importância pra mim do que te tirar dessa situação. Fui tomada por um pânico
gigantesco e tudo o que consegui fazer foi gritar e gritar para o bandido que
eu tinha uma criança comigo. Repetia incessantemente que tinha uma criança, uma
criança, uma criança. Depois do que pareceu uma eternidade – mas que na verdade
foram só alguns segundos – os bandidos perceberam que as coisas seriam um pouco
mais difíceis e resolveram desistir. Sumiram na noite, e a mamãe pisou fundo no
acelerador – tremendo feito uma vara verde! – para nos tirar de lá.
Já faz mais de vinte horas do ocorrido, meu amor,
mas ainda agora eu só consigo repetir diversas preces de agradecimento a Deus,
por ter nos livrado dessa. Vem à minha mente, de forma reiterada e incessante,
que corremos muitos riscos, dentre eles, de os bandidos me tirarem do carro e
irem embora com você. E isso me apavora, me consome, me revira o estômago. Mas,
graças a Deus, Papai do Céu mais uma vez esteve ao nosso lado e tudo não passou
de um grande susto!
E a lição que ficou, a maior delas, é de que eu
realmente te amo ainda mais do que eu mesma imaginava, meu querido! A simples
ideia de algo de ruim te acontecer tirou meu mundo do eixo, desestabilizou
todas as minhas estruturas, abalou minha sanidade.
Só agradeço a Deus, por ter nos permitido chegar em
casa sãos e salvos. Por eu ter dado o seu leitinho e colocado o seu pijama,
como acontece em todas as nossas noites. Por termos dado, juntos, “boa noite”
aos seus amiguinhos. Por ter podido te por pra dormir. E até mesmo pelas vezes
que você acordou de madrugada, por eu ter o privilégio de estar ao seu lado pra
te acalmar e te acalentar.
Agradeço, também, a você, meu filhote! Porque mesmo
sem perceber, você me salvou de um grande transtorno. Se eu estivesse sozinha,
eles certamente teriam levado o carro, a bolsa, os documentos, cartões,
cheques, dinheiro e tudo o mais. Foi graças ao Papai do Céu e A VOCÊ que a
mamãe escapou dessa!
E peço, sim, peço, só um pouquinho porque agora me
sinto demasiadamente agradecida para pedir, mas peço essa proteção sempre! Peço
que o mundo finalmente se torne um lugar um pouco mais seguro e que você possa
viver sem tantos motivos para temer. Que você tenha uma vida longa e feliz sem
qualquer outro contato com a violência. E que, quando você tiver seus próprios
filhos, jamais se veja numa situação parecida com esta, porque a pior dor de
uma mãe e de um pai é ver seu filho em sofrimento ou em perigo.
Que Deus nos abençoe e nos guarde. A cada dia. Como
– bendito seja! – fez ontem.
Te amo, meu amor!
<3